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Sinistralidade laboral: todos juntos podemos melhorar

15.03.2023
Sinistralidade laboral: todos juntos podemos melhorar
A sinistralidade laboral em Portugal continua a ser um problema. Portugal surge no TOP 5 dos países da União Europeia em termos do total de acidentes graves ocorridos em 2020, com 108.772 acidentes. 


No entanto, o número de acidentes de trabalho tem vindo a evoluir de forma positiva. Se em 1985 os trabalhadores em Portugal sofreram 233.217 acidentes de trabalho, este número, apesar de algumas oscilações ao longo dos últimos anos, reduziu para 156.048 em 2020 (dados PORDATA). Em 2020 ocorreram 131 acidentes de trabalho que resultaram na morte do colaborador sinistrado, um número que tem vindo a decair ao longo dos últimos anos. 
 

Apesar desta diminuição, 35 anos depois os números de acidentes de trabalho continuam a ser dramáticos, o que torna necessário desenvolver ações concretas que possibilitem melhorar este indicador. 
 

Esta terrível realidade gera custos muito elevados para as famílias, empresas e para a sociedade em geral. À semelhança da conhecida imagem do iceberg, cuja ponta fica à superfície, mas a massa principal permanece debaixo de água, os acidentes de trabalho implicam custos diretos e indiretos. 
 

Entre os custos diretos encontram-se a assistência médica, transportes, salário e subsídios, e o possível aumento do custo com o seguro de acidentes de trabalho (de acordo com a Associação Portuguesa de Seguradores, os prémios de acidentes de trabalho, em 2021, ascenderam a 965 milhões de euros). 

 
Apesar da obrigação das entidades patronais suportarem os custos da reparação dos danos sofridos pelos seus colaboradores desde 1913, o risco de acidentes de trabalho em Portugal é de transferência obrigatória para o contrato de seguro desde 1919, o que contrasta com o que se passa no resto da Europa. 
 

Os custos indiretos são muito mais vastos, incluindo o sofrimento do próprio colaborador e da sua família, que serão agravados, inclusive na sua qualidade de vida e bem-estar físico e mental. 

 
A estes podemos acrescentar muitos outros, tais como o custo do absentismo, a redução da produtividade e eficiência, pois  os colegas ficam com trabalho acrescido, os custos relacionados com a contratação de colaboradores temporários de substituição (incluindo a sua formação), problemas de segurança resultante do cansaço acrescido e da substituição acelerada do colaborador sinistrado, problemas de motivação, custos com o enfraquecimento das relações de confiança entre colaboradores e entidade patronal. 


O ideal seria a inexistência de acidentes de trabalho, mas, como sabemos, os acidentes acontecem, pelo que é importante a existência de uma relação de cooperação próxima entre segurador, corretor e entidade patronal, para que seja possível minimizar os custos associados. 


O correto e eficaz tratamento do colaborador sinistrado, um eficiente life-cycle do processo de sinistro, tanto a nível administrativo, como clínico, são fundamentais para que seja possível continuar a melhorar as taxas de sinistralidade de acidentes de trabalho. 
 

Os investimentos na gestão de risco, na promoção de segurança, bem como a formação sobre segurança ao universo de colaboradores, contribuem em muito para as reduções significativas nos números dos acidentes em contexto laboral. 
 

A gestão de risco assume, assim, um papel fundamental para a redução da sinistralidade laboral, pelo seu contributo para as melhorias das condições de trabalho, diminuição dos riscos a que os colaboradores estão expostos, proporcionando formação sobre segurança ao universo de colaboradores e, desta forma, suportando a construção e consolidação de uma cultura de atitude, prevenção e segurança nas empresas. 

 

É, assim, fundamental a preocupação, o envolvimento e o trabalho conjunto (empresas, trabalhadores, seguradores, gestores e consultores de risco) para se atingir a redução da gravidade dos acidentes de trabalho, mas também da frequência com que ocorrem os sinistros. Portugal precisa de sair deste TOP 5. 

 

 

Por Isabel Manadas, Diretora de Acidentes Trabalho, Pessoais e Viagem da MDS Portugal 
Publicado no Vida Económica