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Seguro de crédito fomenta Exportações

03.07.2020
Seguro de crédito fomenta Exportações

Estamos na fase de retoma da atividade. Qual o relevo dos seguros de exportação?

Nos últimos anos as exportações registaram um crescimento sustentado e reforçaram o seu peso no PIB, que ascendeu, em 2019, a cerca de 44%. No entanto, com a pandemia verificou-se uma quebra acentuada das exportações, que em 2020 poderá atingir -25% de acordo com as últimas projeções do Banco de Portugal. Por isso, é absolutamente vital criar condições para que se restabeleça uma dinâmica de crescimento. Na situação económica atual o risco das empresas e dos países aumentou, pelo que a cobertura do risco de crédito associado às transações comerciais tornou-se ainda mais crucial e imprescindível. As empresas portuguesas já estão a enfrentar várias situações desafiantes na retoma da sua atividade, pelo que não podem pôr em risco a sua solvabilidade financeira com um eventual incumprimento dos seus clientes. 


O que significa a nova linha criada pelo Governo para países da OCDE? São os países de maior interesse e segurança para as exportações nacionais?

Mais de 60% das exportações portuguesas são para Espanha, Alemanha, França, Itália e Reino Unido. A nova linha, ao cobrir os países da OCDE, permite reforçar a cobertura do risco de crédito duma parcela extremamente significativa das nossas exportações. Neste momento, estes são os países com maior interesse para as empresas e onde elas mais precisam de reforçar as suas relações comerciais.  


Esta é uma forma de dar competitividade às exportadoras nacionais?

Sem dúvida. A maior parte dos países da Europa também já adotou medidas de apoio à cobertura do risco de crédito, pelo que, sem este instrumento, as empresas portuguesas estariam em desvantagem e com a sua competitividade diminuída face aos seus concorrentes europeus.

Adicionalmente, o seguro de crédito é um instrumento eficaz no reforço da liquidez da economia porque aumenta o crédito entre as empresas, reforçando globalmente a sua solvabilidade.


Que condições são necessárias ter para aceder à linha de seguro à exportação para países OCDE?

Esta linha permite aumentar a cobertura das operações de exportação para clientes localizados na OCDE, através de uma cobertura adicional garantida pelo Estado. A empresa tem de dispor de uma apólice d     e seguro de crédito e, caso o limite de crédito atribuído ao seu cliente não seja suficiente, ela pode contratar a cobertura adicional do Estado até ao dobro do valor assumido pela seguradora. Esta majoração pode variar em função do risco do comprador, atribuído pela seguradora. A cobertura pode ser aplicada às vendas que ocorram entre 1 de junho e 31 de dezembro, sendo que a empresa tem de dispor de situação contributiva e fiscal regularizada.


O que explica não existir um reforço das linhas para países africanos ou da América Latina onde as empresas portuguesas têm forte presença?

Como referi, as exportações portuguesas são na sua grande maioria para países da OCDE, onde se incluem alguns países da América Latina. No entanto, o Estado já tem a funcionar apoios à exportação para países fora da OCDE, através dos Seguros de Crédito com Garantia do Estado, geridos pela COSEC. Em março passado, o Estado reforçou alguns desses apoios, nomeadamente a Linha de Seguro de Créditos à Exportação de Curto Prazo, de 250 para 300 milhões de euros. Deste modo, as empresas podem cobrir transações específicas para países de maior risco, através deste seguro. 


A situação pandémica mundial agravou a situação de risco de determinadas regiões do globo? Quais?

A pandemia está a afetar todos os países do mundo, quer ao nível sanitário quer económico. O comércio internacional deverá cair 15% em 2020. De uma forma geral, todos os países estão a registar quedas acentuadas do PIB, aumento do desemprego e das insolvências. As cadeias de abastecimento das empresas estão também a ser fortemente afetadas. Para minimizar o impacto na economia, os países estão a lançar fortes medidas de apoio às empresas e aos cidadãos para amenizar a queda do PIB, ajudar a recuperação e conter o desemprego. Os países menos desenvolvidos serão com certeza os mais afetados porque, para além de terem sistemas de saúde mais débeis que agravam o impacto do problema sanitário, não dispõem de meios financeiros para apoiar a recuperação das empresas e evitar o aumento do desemprego.


A avaliação de risco dos seguradores de crédito relativamente a regiões e países foi definitivamente alterada ou está em constante mudança?

As seguradoras de crédito estão permanentemente a monitorizar o risco dos países, dos setores de atividade e das empresas. Com a pandemia o nível de risco aumentou globalmente, existindo alguns países e setores de atividade que estão mais expostos e a viver situações mais críticas. As seguradoras de crédito têm competências técnicas que lhes permitem melhor avaliar e antecipar as tendências da evolução económica dos países e dos principais impactos setoriais, assim como identificar as fragilidades das empresas para resistirem a essa evolução. Daí que o seguro de crédito seja tão relevante, sobretudo nestes tempos de grande incerteza.


O descontrolo da situação pandémica em alguns países pode significar o desaparecimento de rating para esses países? Qual é a alternativa das empresas nacionais que exportam para esses países? Venderem por conta e risco, sem proteção?

Nos últimos anos, as empresas nacionais têm demonstrado uma grande capacidade para desenvolver os seus negócios e as suas estratégias de internacionalização de forma sustentada, o que permitiu o crescimento muito acentuado do volume das exportações. A recuperação que estamos agora a iniciar terá novos desafios e novas oportunidades que os empresários terão de incorporar nos seus modelos de negócio e nas suas decisões estratégicas. A cobertura do risco de crédito, através dos vários instrumentos existentes, é indispensável ao sucesso dessa estratégia. 


Em termos de atividade económica global, o que já foi recuperado após esta vaga de pandemia relativamente ao momento pré-covid19?

A contração da atividade em 2020 vai ser acentuada, com reflexo negativo no mercado de trabalho. Em 2021 e 2022, o ritmo da recuperação vai depender de vários fatores que ainda são difíceis de determinar, nomeadamente o impacto e a dimensão das medidas de apoio ao emprego e à liquidez das empresas, mas a generalidade das projeções aponta para uma recuperação económica positiva.


Berta Cunha - Consultora da MDS Portugal
Artigo publicado no suplemento Seguros de Exportação do Jornal Económico