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Seguro automóvel, um setor em contínua evolução

10.02.2023
Seguro automóvel, um setor em contínua evolução
O seguro automóvel, provavelmente, é aquele que tem um impacto mais transversal e presente na sociedade, pois, na verdade, todos estamos expostos aos riscos a que está associado (condutores, proprietários, pessoas transportadas, peões, ciclistas, etc.). 


A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que todos os anos morram 1,3 milhões de pessoas em resultado de acidentes rodoviários, e que entre 20 e 50 milhões de pessoas sofram danos corporais responsáveis por incapacidades permanentes. Na globalidade, e de acordo com a OMS, a sinistralidade rodoviária, direta e indiretamente, consome cerca de 3% do PIB da maioria dos países. 

 
Este enquadramento conjugado com a realidade económico-financeira específica do seguro automóvel (prémios e indemnizações) - faz com que o ecossistema onde gravita este tipo de seguro seja objeto de inovação e investimento em tecnologia disruptiva ou transformacional, suscetível de melhorar resultados. 


É precisamente o que tem acontecido, especialmente noutras geografias (como no Reino Unido e em Itália), com a utilização combinada de tecnologia e data – telemática –, e o que começa a verificar-se em Portugal, muito embora ainda em estágios iniciais. Mas não tenhamos dúvidas de que esta será uma tendência incontornável. 

 
A telemática aplicada à condução automóvel consiste na utilização de tecnologia (de geolocalização (GPS) e uma série de sensores e telecomunicações) capaz de capturar o vasto número de dados que são gerados durante a condução e de os transformar em informação que, devidamente analisada e tratada através de metodologias de inteligência artificial, pode produzir informação e dados preciosos para seguradores, condutores e gestores de frota. 


Esta tecnologia poderá estar presente e instalada no veículo, em dispositivos específicos (black boxes), ou mesmo apenas através de smartphones, com o propósito de registar informações em tempo real sobre o veículo (rotas, velocidade, padrões de travagem, etc.) e sobre o comportamento do condutor (por exemplo, utilização do telemóvel durante a condução). 


No contexto do seguro automóvel, a telemática pode ser utilizada para recolha de dados sobre o comportamento dos condutores, tais como velocidade média, hábitos de travagem, padrões e horários de condução, que, posteriormente, poderão ser trabalhados para desenhar novos produtos, calcular o risco e determinar os prémios de seguro de forma mais equitativa e transparente. Poderão ainda permitir a redução e a severidade da sinistralidade. 

   
As soluções baseadas em telemática que podem ser comercializadas pelos seguradores distinguem-se em: seguros pay-as-you-drive ou pay-per-mile, no âmbito dos quais o prémio é calculado em função da distância que foi, efetivamente, percorrida); e seguros "baseados no comportamento da condução”, no domínio dos quais o prémio é aferido em função de uma avaliação (score) do comportamento de condutor, podendo este ser recompensado perante a prática de uma condução segura. 

 
Na ótica do segurado, esta tecnologia traz diversas vantagens, tais como : pagar um prémio adequado ao seu risco específico e perfil de condução, permitindo que condutores mais cuidadosos paguem prémios menores; ter assistência imediata após uma colisão; beneficiar de processos de sinistros mais céleres e de mais e melhor informação para defender os seus interesses, em caso de acidente; e, principalmente, proporcionar aos condutores a oportunidade de receberem feedback sobre a qualidade da sua condução e de estarem melhor preparados e mais motivados para a aprimorar.  


Por sua vez, e do ponto de vista do segurador, a telemática possibilita-lhe estar em melhores condições de conhecer e avaliar o nível de risco dos seus clientes, reforçando a disponibilidade para oferecer soluções e prémios mais personalizados e precisos, suportados em dados sobre o real e individual comportamento dos seus clientes. Premiando ou penalizando quem, na realidade, oferece menos e mais risco, respetivamente. Para além de que a experiência demonstra que existe uma correlação positiva entre a utilização da telemática e a redução da sinistralidade.  
 

A experiência nacional e internacional, no que diz respeito à telemática em veículos automóveis, aponta para uma redução significativa dos acidentes rodoviários, na medida que os condutores de veículos conectados tendem a conduzir de forma mais defensiva e segura.  

  
Por conseguinte, todos beneficiamos da evolução digital e transformacional que está a verificar-se no domínio dos seguros automóvel, reforçando o papel essencial que os seguros têm no próprio progresso da sociedade. 

 

Por Pedro Pinhal, Diretor Técnico e de Sinistros da MDS Portugal
Publicado no jornal Vida Económica