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O futuro do trabalho

17.06.2022
O futuro do trabalho
Desde cedo que somos formatados para escolhermos a "caixa” em que nos queremos inserir, em que estamos mais aptos. Quer seja no ensino secundário ou no ensino superior, fomos (des)orientados a escolher e a afunilar o nosso percurso académico. 

Concluindo os estudos, a nossa visão do mundo do trabalho é limitada, monocromática: "Concluí o curso de Direito, vou seguir a carreira de advogado” ou "Tirei Letras, vou ser professor”. Não tenhamos dúvidas: o desconhecimento das oportunidades de funções que existem nas empresas por parte dos recém-licenciados é colossal.  

O processo de Bolonha, que conta já com mais de 20 anos, auspiciava uma viragem decisiva: uma oportunidade para carreiras académicas menos convencionais, mais ricas e, simultaneamente, a possibilidade dos estudantes irem intercalando os seus (mais curtos) ciclos de estudo com experiências profissionais. Mas o que assistimos foi mais uma "bolonhesa”, que apostou na continuidade do sistema, e demorámos demasiado tempo para aproveitar as oportunidades do ensino europeu uniformizado.  

Felizmente começamos, finalmente, a ver as cores dentro do espetro monocromático: jovens licenciados em Engenharia com mestrados em Letras, Psicologia com Jornalismo, Artes com Gestão.  

Claro que as empresas têm de estar preparadas, quer para receber perfis diferentes como dar verdadeiras oportunidades de integração no mercado do trabalho. Oportunidades que permitam a estes jovens conhecer o espectro de cor e riqueza de funções que o mundo do trabalho proporciona e poderem-se libertar das caixas ou do determinismo académico. Para um futuro do trabalho verdadeiramente inclusivo não basta dizermos que queremos perfis diferentes, temos de ter condições, capacidade de integração e vontade de os receber. 

Por fim, não posso deixar de referir ainda outra tendência monocromática: a dos setores de atividade. A moda dos setores "sexy” das tecnológicas, unicórnios ou start-ups faz reluzir os olhos de muitos recém-licenciados. A estes, lanço o desafio de experimentarem outros setores mais tradicionais e descobrirem a palete de cores que proporcionam! Que tal os seguros? 

 

Pedro Martins, Diretor de Recursos Humanos da MDS Portugal 
Publicado no Especial Saídas Profissionais, do Jornal Económico