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Seguro de Crédito: A afirmação de uma ferramenta diária de gestão de risco financeiro
25.11.2024
A ansiedade na economia mundial foi crescendo, nos últimos meses, com a aproximação das eleições norte-americanas, cujos resultados têm sempre impacto direto no mapa geopolítico global. Contra muitas previsões, Donald Trump acabou por alcançar uma vitória esmagadora, e o nervosismo gerado por este resultado irá manter-se, na minha opinião, na melhor das hipóteses, até ao fim do 1.º semestre de 2025.
No discurso de Trump, podemos salientar a coligação que diz ter estabelecido entre o mundo rural e os empresários, visando a redução das diferenças sociais, colocando Elon Musk em lugar de destaque, para transformar os departamentos estatais sem função de relevo em empresas privadas.
Robert Kennedy, com ideias muito estruturais relativamente aos setores farmacêutico, saúde e alimentação, vai ser parte dos eleitos de Trump; e, ao mesmo tempo, temos o vice-Presidente Vance como sucessor de Trump, com ideias económicas baseadas na "desvalorização do dólar” para fomentar as exportações.
Os grandes financiadores dos Republicanos são as majors, que não veem com bons olhos esta política. Mas o que ocorreu no dia seguinte às eleições foi a valorização de Wall Street, com a Europa a ‘fechar no ‘vermelho’.
Por fim, e mais importante, é a nova configuração do Senado, com sete juízes Republicanos para dois Democratas, ou seja, o partido de Trump recupera o Senado, mantém a Câmara dos Representantes e ganha o Colégio Eleitoral.
O que é certo é que os EUA crescem quatro vezes mais do que a Europa - e isso preocupa o nosso tecido empresarial. A subida das "tarifas” aduaneiras vai afetar as exportações portuguesas para os EUA, o nosso principal mercado fora da Europa.
No dia em que escrevo, reuni com um grupo multinacional que possui uma empresa em Portugal ligada à indústria das janelas de alumínio e sistemas de caixilharia - e a análise e enquadramento da seu CFO sobre o panorama dos últimos meses não poderia ser mais claro e objetivo:
"Tivemos muitas encomendas canceladas, e outras atrasadas, devido à Covid. Com a guerra Rússia-Ucrânia, perdemos o mercado russo, onde estávamos a crescer bastante. E os Orçamentos feitos em 2021, ao serem executados em 2023 e 2024, sofreram com um brutal aumento do custo do alumínio, que quase triplicou.”
Os componentes automóveis são outro exemplo de diminuição das exportações, devido ao abrandar da produção na Europa e à concorrência da China. A indústria automóvel europeia vale cerca de 7% do PIB da União Europeia e é, sem dúvida, um dos grandes, senão mesmo o último, bastiões industriais do nosso Continente, estando neste momento, apesar da concorrência chinesa, atingir os objetivos a que a UE se propôs para 2035 (proibição de venda de automóveis novos com motor de combustão interna).
As dificuldades europeias são o oposto da ascensão galopante da China neste setor. A estratégia industrial de Pequim, assente num vasto ‘pacote’ de subsídios, levou a China a investir mais de 230 mil milhões de dólares na indústria de veículos elétricos de 2009 a 2023. Isto para além de uma série de apoios aos fabricantes de baterias, matérias-primas essenciais à produção. Resultado: marcas ‘estrelas’ (BYD e CATL) ganharam uma posição de domínio no mercado mundial, não só nas vendas de carros elétricos, mas também em toda a cadeia de valor do lítio das suas baterias. E, em 2023, BYD terá mesmo ultrapassado a Tesla em vendas, e a CATL representou 40% da produção mundial de baterias!
As insolvências geradas por este investimento chinês nas empresas europeias e dos EUA são a maior dor de cabeça nestes setores em 2024, prevendo-se que as falências cresçam 11% neste ano e ainda mais em 2025, pondo sob pressão mais de 1,5 milhões de empregos somente na Europa e EUA no próximo ano 2025.
Os únicos efeitos positivos em vista são o aumento da rentabilidade das empresas e o continuar do desagravamento das taxas de juro nos próximos meses, com impacto positivo nos fluxos de caixa e uma redução nos seus custos com os créditos. Ainda assim, os desafios financeiros não desaparecem por completo.
As empresas debatem-se a nível global com uma aceleração da procura mais lenta do que o esperado, com os conflitos e tensões geopolíticas a criarem condições desiguais entre os Estados, em especial no acesso a financiamento.
No que respeita ao Portugal, as últimas previsões apontam para um aumento das insolvências em torno dos 14% em 2024, crescendo mais 7% a 8% em 2025.
Mesmo as economias ditas mais robustas, como é a alemã, trazem para o tecido empresarial português muitos desafios. Veja-se o caso da INAPA, que na Alemanha declarou falência, levando muitos credores a ativar as suas apólices de seguro de crédito.
Vemos cada vez mais, portanto, as empresas com uma gestão mais cuidada e profissional a não solicitarem a exclusão dos grandes clientes” das apólice de crédito.
Nos últimos meses temos assistido, na Área de Crédito & Caução da MDS, a uma crescente procura pelo seguro de crédito, para os quais os empresários olham como uma ferramenta diária de gestão de risco financeiro, que não se esgota com a indemnização perante um incobrável.
As mais-valias destacadas pelos gestores são:
- O mapeamento gratuito efetuado pelos players de crédito aos clientes da empresa permite ter uma noção de onde se concentra o risco de incumprimento;
- A apólice de seguro de crédito maximiza as vendas, tendo em conta a existência do limite de credito ainda disponível (ou solicitando um aumento, uma vez que as contas de 2023 já se encontram disponíveis para consulta e análise);
- Conhecer melhor os clientes e os prospects, pois esta solução avisa diariamente sobre alterações na "saúde financeira” da empesa. As seguradoras de crédito são as primeiras a receber sinais dos atrasos nos pagamentos, prorrogação de prazos de vencimentos, ameaças de sinistro, etc, elementos que nunca são espelhadas nas contas das empresas, mas que são registadas no histórico das seguradoras de crédito;
- Gestor de conflitos no momento do incumprimento (ainda antes de se tornar sinistro efetivo), pois o "peso” da seguradora é substancialmente maior do que o da empresa isoladamente;
- Maximizar as vendas nos mercados exteriores, sobre os quais por vezes existe o receio do desconhecimento (mas onde as seguradoras atuam há décadas e conhecem cada uma das economias como ninguém);
- Acesso a empresas especializadas em informação de mercados externos, assim como de empresas de recuperação de créditos vencidos, que atuam a nível mundial.
- Ter a certeza de que uma das parcelas mais importantes do ativo das empresas - as dividas de terceiros a curto prazo”, que por vezes representam facilmente 60% do total do ativo - estão salvaguardadas por um seguro de crédito”.
Por Marcos Polónia, Diretor de Crédito e Caução | MDS Portugal
Publicado no Vida Económica