voltar
Desafios e Tendências do Seguro de Transporte Marítimo
23.12.2024
Falar de seguro marítimo é falar da génese dos seguros e de um setor que representa mais de 80% das mercadorias transportadas em todo o mundo, e que tem sido crucial para o desenvolvimento do comércio global. No entanto, o seguro marítimo tem sofrido profundas alterações ao longo dos anos, com novos desafios que foram surgindo, de uma forma mais acentuada nos últimos tempos.
A complexidade do comércio global gera novos desafios, destacando-se como um dos mais críticos a grande concentração de carga que resulta essencialmente de:
Concentração de mercadorias nos principais portos:
A otimização do envio da carga, os condicionalismos de rotas e destinos, a escassez de recursos, fazem com que cada vez mais as mercadorias se concentrem nos grandes portos mundiais, aí permanecendo, muitas vezes, durante um período superior ao que seria suposto.
Escassez de mão de obra:
A escassez de mão de obra em toda a cadeia logística e a menor especialização da mesma, sejam motoristas de camiões, tripulações ou trabalhadores portuários, gera atraso nas entregas com o consequente congestionamento dos portos.
Capacidade cada vez maior dos navios porta-contentores:
Os navios porta-contentores são cada vez maiores. Isso para além da obvia concentração de risco, potencia a ocorrência de mais e maiores sinistros e dificulta, por exemplo, a deteção e combate em caso de sinistros de incêndio.
Riscos geopolíticos:
Os conflitos e a instabilidade política forçam muitas vezes os transportadores a escolher rotas e portos alternativos que permitam salvaguardar a segurança das tripulações e das cargas.
Eventos climáticos:
A ocorrência de eventos climáticos adversos, implica muitas vezes o encerramento de portos, obrigando os navios a alterar as suas rotas. Normalmente isto implica que se utilizem rotas menos habituais, muitas vezes mais perigosas e demoradas.
Conscientes de que a concentração de risco potencia a ocorrência de sinistros e a sua severidade, importa falar das principais causas de sinistralidade que afeta as mercadorias transportadas e como podemos intervir no sentido de as prevenir.
A nível de frequência, os danos à mercadoria em consequência de manipulação indevida, deficiente embalagem ou armazenamento, continuam a ser a principal causa de sinistros no seguro marítimo. O aumento do volume de transporte de contentores também potenciou este incremento de sinistralidade, uma vez que, em virtude da escassez a nível mundial, acabam por ser reutilizados contentores de qualidade inferior e danificados.
Nos últimos anos ocorreram também inúmeros sinistros em consequência de roubo e variação da temperatura. Como forma de prevenir estes sinistros, o ideal é a colocação de localizadores GPS e sensores que permitam quer o controle da temperatura quer, por exemplo, a abertura de portas.
Os incêndios nos navios continuam a ser um dos maiores problemas de segurança que o transporte marítimo enfrenta. O tamanho e a configuração dos grandes navios fazem com que a deteção e o combate ao incêndio sejam ainda mais difíceis. Muitos destes sinistros estão relacionados com a declaração incorreta da carga, nomeadamente no que respeita a mercadoria perigosa. Não declarar, documentar e embalar corretamente a carga perigosa, para além de contribuir para a ocorrência de incêndios, dificulta também a extinção dos mesmos.
O seguro de carga é fundamental para o comércio internacional. O envio de mercadoria sem seguro ou insuficientemente segurada pode ser devastador para os proprietários da carga e perturbar as cadeias de fornecimento. Daí a importância de monitorizar os limites do seguro. Os mediadores de seguros são quem melhor pode ajudar os proprietários da carga a controlar estes riscos, ajudando-os a projetar possíveis perdas e determinar os limites de cobertura necessários.
Como consultores devemos trabalhar com os clientes para compreender onde estão agora, onde querem chegar, de que cobertura necessitam, que riscos podem surgir pelo caminho e como podem gerir, mitigar e transferir esses riscos.
Por Domingos Magalhães, Managing Partner da Special Insurance
Publicado no Vida Económica
Publicado no Vida Económica